De acordo com Gleisi Hoffmann, a prioridade dos petistas, caravaneados por Lula, é dialogar com os partidos de esquerda, mas também estão no radar entendimentos e conversações com partidos de centro e centro-direita, como são qualificados o MDB e o PSD. A definição da agenda passa por avaliação de posicionamento político das forças que não são rotuladas como de esquerda. “Para haver a conversa, precisa ter que ser em cima de questões pautas, uma pauta nínima, não é conversar por conversar”, explicou Gleisi, uma espécie de alter-ego do ex-presidente Lula. O ponto de referência é mesmo a pauta que Lula fez, no discurso em que celebrou a anulação das suas condenações, exaltando o SUS, a vacinação em massa contra a covid-19, a geração de emprego e renda para tirar o povo da crise econômica e sanitária que está enfrentando em dimensões preocupantes.
A anulação das condenações impostas a Lula abre para o chefe do PT a possibilidade de ser o candidato em 2022, algo que antes estava barrado por conta da Lei da Ficha Limpa. Até então, com a indefinição sobre o destino político de Lula, face a processos e condenações, o ex-ministro Fernando Haddad vinha sendo persuadido a viajar pelo Brasil, colocando novamente o bloco nas ruas depois do recesso provocado pelo fim das eleições municipais e, também, pelo agravamento da pandemia de coronavírus. A função de Haddad, na verdade, seria manter acesa a chama, erguida a bandeira do PT, ocupar espaço. Todos os espaços, dentro do PT, sempre estiveram reservados para Luiz Inácio Lula da Silva. O partido nunca desistiu do seu retorno triunfal à militância política-partidária e sempre apostou fichas no divisionismo entre ministros do Supremo sobre questões pendentes relacionadas ao futuro do ex-mandatário.
A decisão de Edson Fachin devolveu entusiasmo ao PT – chegou mesmo a desencadear triunfalismo em hostes da legenda, que sempre trabalharam com a perspectiva da polarização política-ideológica e sempre consideraram Lula o único nome capaz de elevar às alturas essa polarização, pelo prestígio que ainda detém em segmentos do eleitorado e pela habilidade política com que sabe combater o presidente Jair Bolsonaro e o seu governo, indo, direto, na jugular, sem qualquer sinal de tibieza ou hesitação. A volta da caravana petista às ruas tem outro objetivo estratégico: o de reaproximar o partido de representações sindicais, de setores marginalizados da sociedade que não estão contemplados no projeto de governo de Bolsonaro mas que estavam distanciados do petismo por um misto de descrença ou de desprezo adquirido pela legenda. Trata-se de um teste, uma prévia para o próprio Lula sentir o pulso das tendências dominantes na opinião pública quanto à conjuntura institucional brasileira.
Gleisi Hoffmann fala em arregimentação de esforços junto “a todos aqueles que estejam na posição de enfrentar a desconstrução do Estado brasileiro e dar combate aos desmandos do governo de Jair Bolsonaro”. Na prática, avalia-se que a eleição recente para presidente da Câmara dos Deputados permitiu uma reaproximação também do PT com partidos fora da esquerda. Os petistas resolveram apoiar Baleia Rossi (MDB-SP), presidente nacional da legenda, contra Arthur Lira (PP-AL), aliado de Bolsonaro, que venceu e hoje coordena a Casa Legislativa. PT e MDB estavam rompidos totalmente desde 2016 quando Dilma Rousseff foi afastada da Presidência da República em um processo que teve como protagonistas o seu vice Michel Temer e o então presidente Eduardo Cunha. Lula deverá, agora, procurar integrantes do MDB com quem tem canais, como Renan Calheiros e Roberto Requião. Mas deverá ser cauteloso nos ensaios de diálogo com o MDB. O próprio Renan adverte que o partido é grande, complexo, plural. “É preciso ter muita calma”, antecipa Calheiros, que conhece como poucos a radiografia do MDB.
Da Redação
Com Os Guedes