O tempo está provando que Lula estava certo em dois aspectos: sempre proclamou sua inocência e sua confiança na Justiça brasileira. E sempre se considerou vítima de uma perseguição judicial no âmbito da Operação Lava Jato, investigação de lavagem de dinheiro que acabou revelando subornos da Petrobras em quatro países. Mais especificamente, Lula denunciou ser uma presa do juiz Moro, cuja atuação parcial ficou demonstrada por seus pares.
A não ser que ocorra uma grande surpresa, tanto Lula como Bolsonaro serão candidatos nas eleições de dois turnos marcadas para outubro de 2022. O dirigente do PT lidera as pesquisas com folga, mas é improvável que os votos da esquerda consigam por si sós derrotar o extremista Bolsonaro. Lula precisa forjar uma aliança ampla como aquela que lhe deu sua primeira vitória eleitoral, em sua quarta tentativa, há quase duas décadas. Tem a seu favor a erosão de Bolsonaro pelas 600.000 mortes que a covid-19 deixou no Brasil e a crise econômica.
O relatório da CPI da Pandemia, apresentado nesta quarta-feira no Senado brasileiro, recomenda que o presidente seja indiciado por crimes contra a humanidade pela gestão da pandemia. Mas Lula tem contra si o receio de boa parte da elite e da mídia, além das restrições por causa da pandemia. Se Bolsonaro reina nas redes sociais, o habitat natural de Lula é o contato direto com os eleitores, os comícios e os abraços.
Muitos brasileiros se arrependeram de ter votado no militar reformado, mas isso não significa vontade de apoiar o Partido dos Trabalhadores dentro de um ano, embora o ódio a Lula e seu partido perca força à medida que o antibolsonarismo avança. Lula, que ao longo de sua carreira tem se mostrado um bom estrategista, terá que agir com cuidado para construir uma coalizão que dilua a rejeição que ainda desperta e unificar forças suficientes para transformar a presidência do populista de extrema direita Jair Bolsonaro em um pesadelo passageiro.