No continente africano, já são mais de 1,2 mil casos suspeitos na República Democrática do Congo. Ainda não há relatos de casos no Brasil.
Os especialistas ainda não sabem, exatamente, como a doença está sendo transmitida. Geralmente, a varíola dos macacos passa de animais para humanos – pois é uma zoonose –, e, com menos frequência, de uma pessoa para outra.
“Essas [varíolas] menores – a varíola menor, a varíola do macaco, a varíola da vaca – a transmissão tem mais a ver com contato de pele. É essa proximidade dos animais que faz com que surja a varíola da vaca, do macaco, por isso que a transmissão inter-humanos é muito rara”, explica Renato Kfouri, pediatra infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações.
“Por isso que nunca se espalhou. Uma varíola dessa fica contida em regiões da África e onde tem essa proximidade da selva, dos animais”, completa Kfouri. “É descrito, já, a transmissão respiratória, pele com pele, mas não de uma vez, em vários países do mundo. Isso é uma novidade”, diz.
Além do contato com a pessoa infectada – pela pele, com as lesões ou fluidos corporais da pessoa doente, incluindo gotículas e secreções respiratórias –, a varíola dos macacos também é transmitida por material contaminado, como roupa de cama. A via sexual de transmissão também está sendo investigada pelas autoridades de saúde mundiais.
“Existe, provavelmente, alguma forma de contato mais íntimo favorecendo a transmissão. Mas não se conhece ainda o mecanismo de transmissão desse vírus em especial”, afirma Kfouri.
“Nós estigmatizamos muito na questão do HIV o comportamento sexual, como se fosse a única forma de transmissão – e certamente, dessa vez, também não o é”, destaca.
A epidemiologista Ethel Maciel, professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), publicou observações semelhantes na rede social Twitter:
“Se você é um homem que faz sexo com outro homem e tem uma relação estável (parceiro fixo), a chance de ter infecção sexualmente transmissível é ~0%. Assim como se você é um homem que faz sexo com mulher. Ou mulher que faz sexo com mulheres”, lembrou.
“Se você tem múltiplos parceiros, e ao ter relação sexual não usa preservativos e tem um comportamento de risco, sua chance aumenta bastante. As combinações são infinitas. Portanto, não é sua orientação sexual que transmite doença, é a forma que você escolheu para viver sua sexualidade”, completou Maciel.
Reunião de emergência
Em uma reunião de emergência nesta sexta-feira (20) sobre o surto de varíola dos macacos, a Organização Mundial da Saúde (OMS), confirmou as dezenas de casos e afirmou que as investigações estão sendo aprofundadas. Nos próximos dias, é provável que mais casos sejam relatados à medida que a vigilância epidemiológica for expandida, segundo a OMS.
“A OMS está trabalhando com os países afetados e outros para expandir a vigilância da doença para encontrar e apoiar as pessoas que podem ser afetadas e fornecer orientações sobre como gerenciar a doença”, disse a agência da ONU, em um comunicado divulgado nesta tarde.
Ainda de acordo com a OMS, os surtos recentes relatados em 11 países até então são atípicos, pois estão ocorrendo em locais onde a doença não é endêmica.
Desde 1970, casos humanos de varíola dos macacos foram relatados em países africanos, levando a surtos ocasionais entre a população local e viajantes.
Sintomas da doença
A varíola dos macacos causa erupções cutâneas na pele com pústulas e bolhas que se abrem depois de um tempo e formam uma casca. Dependendo da fase da doença, a erupção parece diferente e pode ser semelhante a causada por varicela ou sífilis. A doença passa depois de três ou quatro semanas. Apenas em casos muito raros, ela é fatal – geralmente quando atinge crianças pequenas.
O período de incubação do vírus varia de sete a 21 dias. Os sintomas, porém, costumam aparecer após dez ou 14 dias. Além das erupções cutâneas, a varíola dos macacos causa dores na cabeça, costas e muscular, febre, calafrios, cansaço e inchaço dos gânglios linfáticos.
Autoridades de saúde alertam para aqueles que apresentarem mudanças incomuns na pele procurem um médico imediatamente.
Como se proteger
Não há um tratamento específico para a doença e nenhuma vacina contra esse vírus. Médicos acreditam que a vacina contra a varíola também protege contra a varíola dos macacos. Embora ambos os vírus não tenham relação direta, eles são bem parecidos para que o sistema imunológico responda à infecção.
Graças uma grande campanha de vacinação global, a varíola foi erradicada no mundo em 1980. O Instituto Robert Koch (RKI), a agência de prevenção e controle de doenças da Alemanha, alerta que grande parte da população mundial já não possui mais proteção contra esse vírus devido ao longo tempo que passou desde a imunização.
Da Redação
Com Pragmatismo Político