O site UOL trouxe uma matéria sobre a saúde na Paraíba nesta
quarta-feira (18) onde famílias viajam cerca de 6 horas para fazer o
tratamento de câncer , já que não existem unidades de saúde
especializadas mais próximas na região. Destaca ainda um hospital
concluso, mas que ainda não está funcionando por motivos de falta de
recursos Federais para a unidade, segundo informações do Governo
Estadual.
Confira a matéria completa abaixo:
Com hospital de R$ 2,7 mi parado, pacientes pegam 6h de estrada para tratar câncer
"É uma viagem longa, cansativa, sem conforto, mas é a única opção que
tenho de lutar pela vida". O desabafo é da dona de casa Edilene dos
Santos, 46, que há oito meses descobriu um câncer no colo do útero.
Desde então, viaja cerca de 350 quilômetros de Patos, no interior na
Paraíba, até João Pessoa, capital do Estado, para fazer tratamento no
Hospital Napoleão Laureano. Sofrimento que poderia ser minimizado caso o
Hospital de Oncologia, no qual foram investidos R$ 2,7 milhões,
estivesse em funcionamento.
A unidade foi entregue em julho de 2016, segundo Simone Guimarães, que
responde pela Superintendência de Obras do Plano de Desenvolvimento do
Estado (Suplan). Contudo, está, até hoje, inutilizada. Faltam os
equipamentos e a habilitação, responsabilidades que cabem ao Ministério
da Saúde, segundo a superintendente.
"Eu entrego obra, e a obra foi entregue. Para funcionar, depende do
Ministério da Saúde (MS), que deve enviar os equipamentos", afirmou. A
Secretaria de Saúde do Estado também afirmou que aguarda recursos do
Ministério da Saúde para aquisição de equipamentos.
Em Brasília, a versão é outra. Em nota, o MS informou que, até o
momento, não recebeu oficialmente nenhuma solicitação de habilitação de
unidade hospitalar no município de Patos.
"Para que um hospital receba recursos do MS para realizar tratamento de
pacientes com câncer, é preciso que o mesmo seja habilitado em oncologia
junto à pasta", esclareceu. Segundo o MS, a Paraíba possui quatro
hospitais habilitados para tratamento de câncer (dois em João Pessoa e
dois em Campina Grande), lista na qual o Hospital de Patos não está
incluído.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, o hospital foi construído a
partir de uma parceria com o Ministério da Saúde. No final de 2015,
conforme a secretaria, foi solicitado ao Ministério da Saúde a liberação
dos recursos, mas nenhuma resposta foi dada. Ainda de acordo com a
secretaria, "com a troca de equipe no Governo Federal, foi feita uma
nova solicitação, mas o governo ainda não sinalizou a liberação de
recursos na ordem de R$ 50 milhões/ano".
Seis horas de estrada
Enquanto o MS e o governo da Paraíba discutem sobre as competências de
cada um nesse processo, pacientes como Edilene continuam a peregrinação
em busca de tratamento para o câncer bem longe de casa. Geralmente sem
condições de pagar a passagem no ônibus convencional, os pacientes
dependem de carros e vans das prefeituras para irem até a capital. Uma
viagem longa, apertada e sofrida. De Patos até João Pessoa são
aproximadamente seis horas na estrada.
Segundo o diretor presidente da Fundação Napoleão Laureano, o médico
Antônio Carneiro Arnaud, cerca de 50% dos pacientes atendidos no
hospital são do interior da Paraíba, de um total de aproximadamente 20
mil habitantes por ano. No ano de 2015 foram atendidas 415 pessoas do
município de Patos. O restante corresponde a pacientes da capital e da
Região Metropolitana de João Pessoa, que compreende outras cinco
cidades.
No estacionamento da unidade, todos os dias, dezenas de pacientes vindos
do interior, ficam sentados horas após serem atendidos esperando o
carro da prefeitura voltar para a cidade de origem. A maioria chega sem
tomar café. A sorte é o trabalho de voluntários da Rede Feminina de
Combate ao Câncer, que distribui café, leite, biscoitos e pão
diariamente no hospital.
Quem fica até mais tarde – e essa é uma situação comum – geralmente só
almoça quando volta para casa. "Não dá para comprar almoço, fica
pesado", afirma Maria Betânia Costa, que acompanha o irmão, que
recentemente descobriu um tumor na cabeça e teve de operar. Para driblar
a fome, às vezes eles levam biscoitos. Devido ao longo tempo de viagem,
poucos se arriscam a levar marmita, que pode facilmente estragar.
O aposentado Abílio Ramos, 81, que mora em Tacima, a 150 quilômetros da
capital, também só se alimenta quando volta para casa após a consulta
com o urologista. Desde que descobriu o câncer de próstata, essa é a
rotina que o aposentado vive uma vez por semana: acorda cedo, pega
carona no carro da prefeitura, chega ao hospital sem tomar café, e
retorna sem almoço.
"O bolso não dá para comprar o remédio"
O drama de Abílio Tamos também é vivido pela família de Hosane
Fernandes, que luta contra um câncer de mama. Todo mês, a filha dela,
Rosane Fernandes, sai de Guarabira (98 km da capital) para João Pessoa
para pegar o remédio que a paciente não pode deixar de tomar.
"O bolso não dá para comprar o remédio. É uma caixa por mês", afirma
Hosane. Sem alternativa nem dinheiro para pagar uma passagem no ônibus
interestadual, Rosane viaja uma vez por mês para João Pessoa e, depois
de pegar o medicamento da mãe, espera pacientemente pela van da
prefeitura, que geralmente demora de quatro a seis horas para voltar.
"É cansativo, chega a ser desumano", diz Rosenilda de Sousa, que
semanalmente leva os dois filhos pequenos de Patos para tratamento em
João Pessoa. Os meninos são hemofílicos e estão sendo submetidos a mais
exames - houve época em que chegaram a ir três vezes por semana. "Faço o
esforço porque é para cuidar dos meninos, se fosse para mim acho que
não teria coragem."
Campina Grande também oferece tratamento
Na Paraíba, quem não vai até a capital em busca de atendimento, procura o
Hospital da Fundação Assistencial da Paraíba (FAP), em Campina Grande, a
112 km da capital. Em novembro, o hospital recebeu um novo acelerador
linear do Ministério da Saúde, que pode reduzir o tempo de espera na
fila para o tratamento de radioterapia.
Da Redação
Com UOL





