Segundo o presidente da Famup, George Coelho, muito da
situação de dificuldade vivenciada hoje pelos municípios é fruto dos efeitos da
transferência de responsabilidades dos governos federal e estaduais às
prefeituras. “Por conta do aumento dessas responsabilidades, a folha de
pagamento dos municípios aumentou 31%, para dar conta das políticas públicas.
Outro fator que está afetando as contas públicas é a demora nas transferências
das emendas parlamentares. Este está sendo um ano de muita dificuldade para as
gestões municipais”, disse.
De acordo com o levantamento da CNM, o volume de despesas
tem crescido a frente das receitas, e o déficit passou de R$ 0,4 bilhões para
R$ 5,8 bilhões, nos municípios pequenos; de R$ 2,2 bilhões para R$ 8,4 bilhões,
nos Municípios de médio porte; e de R$ 12,7 bilhões para R$ 18,5 bilhões nas
grandes cidades. Ainda que a situação afete todos os portes de Municípios, os
casos mais graves estão nas localidades populosas, com 65% de déficit; e nos
pequenos Municípios, com 57% de déficit.
A CNM destaca ainda que, a partir dos dados apresentados no
Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO) de 2024, corrigidos pela
inflação, pelo IPCA, a CNM tem alertado para efeito deletério do aumento
despesas primárias, puxada pelo custeio da máquina pública, no processo de
deterioração das contas públicas. A entidade aciona o botão de alerta máximo
para os desdobramentos do fenômeno, neste ano, de 2025, e a partir dele se
nenhuma medida for tomada. A crescente vinculação das receitas municipais agrava
o atual cenário de crescimento acelerado das despesas públicas.
Vale destacar que o cenário de crise não começou ontem, mas
a situação que já era drástica, nos últimos anos, piorou consideravelmente. A
Lei Complementar 173/2020 – de enfrentamento a Covid-19 – congelou as despesas
de pessoal e vedou admissão de pessoal até dezembro de 2021, exceto para
reposições. Ficou proibida a concessão de aumentos e reajustes salariais e
medidas que levassem a despesa obrigatória acima do IPCA. Como resultado, o
aumento da arrecadação no período superou o crescimento das despesas, gerando
uma elevação substancial dos recursos em caixa.
Pós-vigência
Passada a vigência da lei, foi necessário reaparelhar a
máquina pública, contratar servidores e revisar os contratos e as estruturas
salariais. Por conta disso, do primeiro para o segundo semestre de 2022, os
Municípios voltaram a se endividar, e o acúmulo registrado em caixa recuou 63%
em um ano, passando de R$ 112,5 bilhões para R$ 41,7 bilhões. Os Municípios no
vermelho explodiram de 8% para 34%.
Já no primeiro semestre de 2023, as contas públicas
apontavam para um déficit de R$ 18,4 bilhões, com 52% dos Entes locais no
vermelho. O cenário de piora avança no segundo semestre de 2024, quando a
quantidade de prefeituras no vermelho sobe para 54% e déficit para R$ 32,7
bilhões. Somente entre 2023 e 2024 as despesas superaram as receitas em quase
R$ 50 bilhões, e exigiram que os Municípios recorressem aos saldos financeiros
acumulados durante a pandemia para fechar as contas.
Considerando os dados de 1,8 mil municípios já enviados à
Secretaria do Tesouro Nacional (STN), o primeiro bimestre de 2025 registra
déficit acumulado em 12 meses de R$ 16,3 bilhões, superior aos R$ 12,1 bilhões,
em 2024, mas inferior aos R$ 25,2 bilhões de 2023.
Com Assessoria de Imprensa