“Como eles não têm contato com ninguém que foi viajar também, isso é importante. Quando a origem da doença é desconhecida significa transmissão comunitária. Como são só dois casos, é claro que pode aparecer esse contactante que foi viajar ou não. Mas, independentemente disso, já se assume, sim, que é uma transmissão comunitária”, afirma a virologista Camila Malta, pesquisadora do Laboratório de Investigação Médica do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e do Instituto de Medicina Tropical.
No fim da tarde de ontem, o Ministério da Saúde divulgou que três casos de São Paulo estavam em investigação de transmissão local, porque, de acordo com as primeiras verificações, três homens do estado estão doentes e também não têm histórico de viagem nem contato com viajantes.
A virologista explica que não chega a ser uma surpresa a transmissão local. “Já era esperado que isso fosse acontecer. Nos países onde essa doença foi detectada, acabou tendo transmissão comunitária algumas semanas depois. É uma doença contagiosa, não tanto quanto a Covid, mas ela é transmitida por fluidos, uso de toalha, roupa contaminada. Portanto, se o indvíduo mora com alguém ou divide ou compartilha utensílios ou roupas com outra pessoa, existe uma possibilidade de transmissão”, diz Camila.
As especialistas explicam que o surgimento de infectados comunitários obriga os órgãos de vigilância de saúde a ter uma atenção maior no aparecimento de novos casos. “Medidas rigorosas de rastreamento, diagnóstico rápido, isolamento adequado e outras medidas para conter o surto”, sugere Eliana.
Camila complementa que os profissionais de saúde também devem estar atentos à mudança. “Como nós já temos a doença circulando por aqui, um clínico não pode simplesmente descartar um diagnóstico de varíola pelo [fato de o] paciente não ter viajado simplesmente. Geralmente, acontecia isso quando a gente ainda não tinha a doença endêmica aqui. Agora já não faz parte. O indíviduo pode não ter tido contato com ninguém e ainda assim ter contraído.”
A ampla comunicação da varíola do macaco para a população em geral é fundamental. “É bem possível que algumas medidas sejam tomadas para tentar controlar a transmissão e avisos para a população para se prevenir. É importante intensificar todas as informações que já estão disponíveis hoje para que um número maior de pessoas possa se prevenir”, salienta a virologista.