Ao encaminhar o caso para a PF dois dias depois do primeiro turno, Torres alegou existir um “histórico de erros absurdos” dos institutos que influenciaria o resultado das eleições.
O pedido de acesso feito pelo UOL pedia a íntegra da representação na qual o ministro afirmou que baseou seu despacho à PF. A solicitação foi inicialmente negada pelo governo, que alegou sigilo.
No entanto, após recurso feito pela reportagem, também por meio da LAI, a gestão disse que não havia razão legal para impedir o acesso aos registros.
POR QUE ESSES DOCUMENTOS SÃO IMPORTANTES?
- Porque demonstram que um ministro do governo atendeu a um pedido feito pela campanha de Bolsonaro, então candidato à reeleição, para investigar institutos de pesquisa eleitoral;
- O ataque aos institutos alimentou a narrativa de Bolsonaro e seus aliados no segundo turno das eleições;
- Torres disse publicamente que o documento apontou “condutas” que caracterizariam a “prática de crimes” dos institutos, mas a representação tinha somente uma planilha com o resultado de pesquisas em comparação com o resultado das urnas;
- A representação de Valdemar somente mencionou pesquisas que davam Lula na frente de Bolsonaro; ignorando institutos que pregavam vitória de Bolsonaro;
- Integrantes do Ministério Público Federal e da PGR consultados reservadamente pelo UOL, além de especialistas em direito penal, veem como atípica a conduta de Torres e possível “dobradinha” de Valdemar com o ministro.
Valdemar só citou pesquisas com Lula na frente. A representação assinada pelo presidente do PL pedia uma investigação contra institutos de pesquisa sobre as divergências entre os votos recebidos por Bolsonaro e as intenções de voto divulgadas nos dias anteriores. O documento foi entregue ao Ministério da Justiça em 3 de outubro —um dia depois do primeiro turno.
“É consabida a importância que as pesquisas eleitorais têm no processo eleitoral, bem como a absoluta e efetiva influência que possuem nos eleitores, sobretudo naqueles ainda indecisos”, afirmou Valdemar.
O presidente do PL poupou no pedido institutos de pesquisa que davam Bolsonaro na frente de Lula, como a Brasmarket, cenário que não se confirmou nas urnas. Estratégia semelhante foi adotada pela campanha eleitoral ao questionar os institutos no TSE, como mostrou o UOL em outubro.
O documento também não traz nenhuma prova de atuação dos institutos de pesquisa para prejudicar Bolsonaro. O pedido só anexou uma planilha com a diferença entre as pesquisas de nove institutos e a porcentagem de votos recebida pelo presidente no primeiro turno.
Foram citados os seguintes institutos: Ipec, DataFolha, Ipespe, Quaest, Atlas, PoderData, Ideia, MDA e Paraná Pesquisas.
Torres criticou institutos ao cobrar investigação. Após receber a representação de Valdemar, o ministro expediu um ofício diretamente ao diretor-geral da PF, Márcio Nunes de Oliveira.
- O assunto: encaminhava o pedido de Valdemar para que fosse conduzida “competente investigação” de crime de divulgação de pesquisa fraudulenta –que pode levar a prisão de 6 meses a 1 ano, além de multa de R$ 100 mil.